quarta-feira, 29 de maio de 2013

Terráquea - Terra, aqui, ó







Ficava ali sentada todos os dias, assobiando, olhando pro céu até o anoitecer, esperando os zepelins do passado e os objetos voadores do futuro virem lhe deixar as respostas das cartas – que nunca recebia pelos Correios, talvez por terem como remetente e destinatário ela mesma. De olhos fechados, eles passavam, enquanto ela sonhava que dali sairiam seres marcianos, uranianos e, principalmente saturnianos, dentre os quais um ouviria a proposta:

 “Em vez de me dar um anel de noivado, prefiro ganhar um anel de Saturno. A nossa lua de mel será na Lua”.

E tinha tamanha admiração pelo infinito do espaço que certa vez se apaixonou por um homem vestido de escafandro, confundindo-o com um astronauta. Depois de delirar com seus sonhos, acordava e abria os olhos para a noite, assobiando, assobiando, na espera dos pássaros lhe responderem. Toda essa comunicação porque uma vez levou um cocô de passarinho na cabeça e, contraditoriamente, lhe disseram que era sorte - na certa, diziam que cagada de ave é só aquilo tudo que a danada come: migalha, semente e fruta. Por causa deste incidente quis capturar todos os pássaros só pra ela. E foi o que fez. Colocou-os numa vitrola e ali dentro ficavam todos juntos, cantando, num só coral de assobios, quando ela colocava a agulha pra tocar o disco. Sonhava em fazer serenatas com violão, mas a verdade é que ela desafinava desde o dia em que seguiu uma fanfarra num desfile de independência. Tentou acompanhar com o  “La-Ra-Rá” a música e só o que conseguiu foi a vaia da fanfarra em uníssono, num só zumbido.
“Os pássaros pediram pra eu calar a boca, que meu disco estava furado. Daí, eu fiquei

    rodando,
   rodando,            rodando,
rodando,                     rodando,
    rodando,           rodando,
   rodando.

Até virar disco voador”.
E saiu rodopiando dali, junto ao nhec-nhec das engrenagens, feito um pião. “Quer saber? Eu vou mandar todo o mundo é catar milho !” E jogou pra cima, aquela toda milharada. Estouraram como pipocas, no sol quente, chovendo do céu da sua boca.

[Um objeto voador não identificado] – foi como me descreveram o que caía do espaço naquele dia.

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