terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Rapadura

Não me esqueço docê, não.
Sou doce.
As vezes amargo.
As vezes azedo.
Mas, ói.
Juruprucê, sou doce.
A culpa (as vezes) é das formigas.
Vez em quando carregam todo o meu açucar. E eu fico assim, destemperado.
Mas, ainda bem que elas aparecem, as gralhas. Uma por uma, querem pegar as minhas formigas - e cada migalha de açucar que me escapa pela boca é devolvida, até que eu vire rapadura de novo. E, rapaz, isso não dura. Mas, rapaz, essa rapa as vezes é dura. E a vida destempera as vezes mesmo. E tira açucar e põe sal. E tira açucar e põe pimenta. E tira e põe e tira e põe. E daí os bêbados, os loucos, os vizinhos e aquele cara do fusca (que buzina estridente na sua esquina, depois daquela partida de futebol), tiram e põem a dentadura. E todos eles soltam uma. E você também solta uma. E, pra cabeça não escapar pelo fio que tá pendurando ela, eu mesmo, que abano o rabo como um cachorro solto - e que vagueio entre meu parafuso solto e minha sanidade de chave de fendas - eu também solto uma daquelas. Louca, até ela me sair rouca como uma gralha. É que os sorrisos não cabem pela boca, por isso é que existem as gargalhadas. Soltas, elas são risos de gralhas. Elas são as devoradoras de formigas ladras de açucar.



Com muito atraso, dedicado ao Badaró e ao bar Nhô Botequim. Com vocês, em Rio Preto.


"Um lunático. Vivia no mundo da Lua. Salve, salve, São Jorge! "



3 comentários:

  1. Laurinha, que delícia é ler seus escritos. Refestelei-me!

    beijos

    Celsinho Lui

    ResponderExcluir
  2. Ei, Celsinho. Muito obrigada! Fico muito feliz quando alguém me diz que curtiu ! 8-)

    ResponderExcluir