segunda-feira, 30 de julho de 2012

O infinito em coisas minúsculas

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Minha avó abrigava uma casa dentro da outra. Uma, era a casa em que morava com meu avô e onde todos os filhos e netos iam visitá-la. As outras, eram as gavetas, a velha cômoda esquecida, sua estante vermelha e os guarda-roupas que escondiam os mais infinitos objetos. Se eu inventava de querer alguma coisa de volta (que eu tinha esquecido vez atrás) era apelar para São Longuinho e abrir as portas e gavetas da casa e procurar nos mais longuínquos lugares que uma mão pode alcançar. Ah, mas era uma perdição. Ali eu encontrava de tudo, era botão, era linha, era agulha, era sabonete que já cheirava a naftalina, era sapato de um bebê que já tinha, por um acaso, virado adulto. E eram caixinhas que guardavam retratos de fotos 3x4, e eram adereços de outros carnavais e era lá também que se encontravam os cadarços, os grampos, as xuxinhas, os pés de meia solitários e os óculos de um míope que os duendes resolviam esconder para os culparmos pela nossa própria falta de memória. Naquele abre e fecha de portas de guarda roupas e de gavetas era onde moravam os broches de vovó e os pentes azuis de meu avô insistente em pentear a sua careca - lá era onde ficavam as promessas do terço de bolinhas brancas, o cheiro de alguém pela gola da camisa, os brinquedos quebrados e abandonados pelas infâncias passadas. Aqui, nestes pequeninos objetos, encontram-se as memórias de algumas pessoas. Estas memórias vagueam pelos lugares mais ocultos das casas e vieram passear pelas bandas deste lado de cá.
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E, esta do meio, é minha avó, Maria.

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