Os desejos de um realejo

Um papelzinho colorido eu vejo.

Vem aí um realejo!

A música toca. Um pássaro canta.

A sorte está lançada!

Pra que lado voará o seu desejo?

A sorte não dá em pé de pinha, pé de abacate, pé de tomate,

mas começa ao se pisar com o pé direito.

A sorte, dizem por aí, encontra-se ao carregar pé de coelho,

cílios do olho  escondido entre os peitos.

Ao cortar o bolo de baixo pra cima

ou pegar um tal pote de ouro

(ao chegar ao fim de um arco íris).

Encontra-se por aí, dando sopa, ao andar com a vida de vento em popa.

Encontra-se, por aí, de repente, se vir um fusca azul passando na sua frente.

Ao jogar uma moeda na fonte ou pegar o buquê da noiva.

A sorte, a sorte, amigo.

Quem disse que a tenho sempre comigo?

A música sai pela radiola, mas, adivinha, que papelzinho o pássaro irá escolher agora?

-- A tartaruga ganhará ainda muitas rugas e um trailer para não ter que sentir tanto o peso da vida nas costas.

-- A moça enrugará os dedos de tanto se lavar. Quantas bolhas ainda pretende estourar? Pois, preste atenção, a vida não está para sabonetes: a bolha pode ficar colorida por fora, mas quase invisível por dentro.

-- Homens lunáticos trabalham dia e noite na rua. Aproveitem, desfrutem e vão ver a Lua!

-- A vida de uma bailarina promete. Será feliz mesmo com as suas joanetes!

Se acha que a vida está com a pá virada,

não pode ler horóscopo atrasado,

não pode passar debaixo de escada,

não pode ver gato preto

muito menos quebrar espelho.

Não pode dormir com os pés virados pra porta.

Não pode,
não pode,
não pode.

É. A sorte, a sorte.

Será que encontra-se depois da morte?

Vejam, vejam, vejam!

Vem aí um realejo!

Quantos desejos será que cabem 

dentro de mim mesmo?