O último mural do projeto Olhar Marginal, projeto que há alguns meses comecei aqui em Rio Preto, SP, através do Edital Nelson Seixas, pela prefeitura municipal da cidade. Ao todo foram confeccionados oito murais pelas marginais Arthur Nonato e Governador Adhemar Pereira de Barros. As ilustrações foram inspiradas nos haicais de Ubirathan do Brasil, poetástico, e este mural daqui, das fotos abaixo, é o oitavo mural, o último dos moicanos.
Quero dizer que foi um grande prazer e aprendizado pra mim fazer algo pelas ruas. Nesse meio tempo conheci muita gente enquanto pintava: vizinhos dos muros, trabalhadores locais, carros que passavam e buzinavam todos os dias, gente mesmo que eu nem conhecia, mas que ia me acompanhando durante todo processo pelos muros. Por exemplo, os donos da casa desse muro que mostro, um casal. Quando comecei o mural e os cachorros dali não paravam de latir pra mim, a dona da casa estava grávida. Com um barrigão enorme, ela ainda andava de moto e aparentemente levava uma vida normal. Eu não entendo muito de gravidez e, mesmo com o tamanho da barriga dela, eu não parei pra imaginar que um bebê pode numa hora estar dentro da barriga da mãe, noutra, alguns minutos depois ele nasce, chora, mama, faz cocô. Pois bem, isso acontece Laura, os bebês nascem. Eu sei. Mas, no último dia de pintura do mural, o marido dela saiu ao portão. Me cumprimentou com um bom dia muito sorridente - acho esquisito as pessoas serem tão simpáticas assim. Eu gosto dessa simpatia, gosto que sejam muito simpáticos comigo, mas sinceramente, as pessoas raramente são super simpáticas assim. E eu fiquei sem entender a alegria daquela simpatia toda. Mas, voltemos ao que interessa. - Depois daquele bom dia recebido continuei a pintar o mural, como eu já estava fazendo. E, passado uns 5 minutos que o homem já estava parado junto ao portão (e eu achando que ele esperava uma carona) chegou sua esposa em um táxi. Ela não chegava sozinha, chegava junto com seu bebê. Uma menininha que havia acabado de nascer. Era o primeiro passeio do nenê ao sair do hospital e, o pai estava super simpático assim, porque estava era muito feliz, esperando sua esposa chegar com sua filha. Finalmente as duas, mãe e filha, em casa. Que bonito isso, eu achei. Eu presenciei um dos momentos mais importantes talvez na vida desse cara: o dia em que sua (aparente primeira) filha chegava em casa. Eu me senti privilegiada por ter pedido aquele muro pra fazer a arte ali. O dia em que eu terminava de fazer o último mural era o dia em que o bebê daquela casa também chegava ao mundo real. Era um ciclo se iniciando. E eu estava ali, terminando o último mural, encerrando o projeto Olhar Marginal. Mas, talvez também, iniciando um novo ciclo em minha vida, na arte que eu faço. Só sei que vou sentir uma saudade danada desse projeto pelas ruas, mas que venham muitos outros ciclos por aí.
Este aqui é o Bira, o poeta. E este aqui é um dos meus haicais preferidos dele.
Crédito dessas fotos bonitas para a Bruna Borges, que com seu olhar incrível e sensível, me acompanhou durante toda essa trajetória do projeto.
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