Hoje compramos meu cachorro,
mas ele não veio embalado numa embalagem bonita
como quando compramos as coisas no supermercado.
Mês de cachorro louco
Nossa, apertado. Mijei, mijei sim, feito um animal. Onde eu mijei, ninguém
mija mais. Jamais. O bife da vizinha não há cachorro algum que aguente. Esse
cheiro eu poderia sugar até entupir o fucinho. Se ela me desse um pedaço eu
comeria com tanta vontade que não daria mais uma de cachorro magro. Filé
mignon, bife bourguignon e, eu, um simples dogão aqui. Viro lixos, fedo rua, vou pra Lua e não ligo.
Ando aqui, ando ali, sem saber pra onde ir. Começou a chover, tô molhando, tô
molhando, a chuva molha o meu pelo suado. E ainda tenho que ouvir sai pra lá
cachorro, que fedo cachorro molhado. Vou atravessar a rua, rodas, rodas, rodas
no asfalto. Socorro, uma bicicleta, desvia, desvia! Não me matem, não sou de
brinquedo. Eu ando, penso, tenho medo.
Uma criança me vê, vem cá cachorrinho, quero você. Eu sou uma fofura.
Esses apertos no meu pescoço, uma tortura. Vem cá menino, vem cá menino, passa a
mão em mim. Eu te abano o rabo. Posso ser seu amigo, olha pra mim, olha o meu
rabo. Tá sorrindo, vê? Vou te seguir, te
seguir, vai, no três. Corra no um, no dois, três! Vou ganhar, vou ganhar, vou ganhar! Você
corre muito devagar... Opa, opa, uma cadela. Vou cheirar o rabo dela. Delícia
esse pelo tosado. Hum, você ainda tá no cio? Fala pra sua dona parar de te
puxar, vem cá, não, não vai embora! Opa, quantas pernas, cuidado, companheiro,
tô aqui, não me chuta. Escutei, vai pra lá, cachorro filho da puta. Vejo mesas,
embaixo mais pernas. Alguém me joga um pedaço de sanduíche. Quero outro, ei,
joga outro! Olho com cara de cachorro abandonado. Passo a língua sobre os meus
dentes. Isso, fica com pena de mim. Joga outro? Tô babando, olha a baba caindo
no chão não vê, não? Uma barata, vem cá sua
danada! Ah, vem cá, vem?! Te peguei! Eu desvio e, ai, cuidado, eu odeio mulheres de salto alto, a vida já é
dura com fogos e bombinhas em noites de ano novo! Não me pisa! Puts, que
barulho infernal! Parem com isso! Minha orelhas estão aqui, ó. E essas máquinas de furar asfalto ainda me
deixarão surdo! Sinto cheiro de comida alheia, vou abanar o rabo. Venham patas,
vamos virar as latas. Hum, que temos pra hoje? Ossos de frango, espinha de
peixe assado, alface murcha, iogurte coalhado. Isso se repete nos lixos a cada
ano. Não aprendem que não sou vegetariano. Macarrão de geladeira, como comem
comida esses humanos, jogam fora de bobeira. Que horror, tão pequeno, tão
fedido. Como cheira mal essa fralda de bebê. Falando nisso, que vontade de
cagar. Vou fazer aqui. Vamos, lá, limpando o território, sem parar, sem parar...Express.
Cachorros fazem cocôs fast food. Quentinho. Esse ficou bonito, hein?! Opa,
cuidado amigo. Fodeu. Que meda, ele
pisou. Deu merda.
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